quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Anatomia de um ensaio fotográfico

Ensaios fotográficos são meios pelos quais um fotógrafo aborda um determinado tema. Nele, o "autor" adota uma linguagem ou uma linha de raciocínio para dar destaque ao tema escolhido.
Já fiz muitos desses, sempre tentando explorar técnicas recentemente aprendidas, ou apenas tentando relembrá-las.
O tema deste que fiz recentemente me veio num momento de embasbacamento com minha própria motocicleta. Tarde de domingo, sentado numa sombra, admirava as formas esculpidas por algum genial designer japonês. Em seguida me lembrei de uma lente que possuo e que raramente uso, por ser uma prime. Lente prime é aquela que possui distância focal única, neste caso 70mm. Essa lente, uma bela Sigma, tem valor de abertura máxima de f/2.8, com macro real 1:1. 
Pensei imediatamente em chegar bem perto, up close and personal, usando essa lente, que permite foco a distâncias ridiculamente curtas.
No feriado de 7 de setembro, lá pelas dez da manhã, pus-me a trabalhar. Armei-me da câmera (Canon EOS 400D), com a lente Sigma 70mm, alguns filtros (acabei usando só o polarizador), um rebatedor Lastolite dupla face branco/dourado, tripé Manfrotto e cabo disparador.
Não me dediquei totalmente às cegas a esta tarefa. Leio revistas de moto desde 1984, ininterruptamente. Nessas revistas são apresentados um mundo de detalhes dos modelos testados, alguns em close-up. Parti daí. O que exatamente eu queria mostrar? Uma peça essencialmente funcional, outra de apelo estético, ângulos inusitados. Pensei em mostrar close-ups de várias partes da moto, com ênfase no design.
Em primeiro lugar, a escolha do local. Como o sol já estava a pino, preferi trabalhar à sombra. Mesmo porque no local que escolhi não seria possível chegar próximo do lago. O sol a pino permitiria um melhor aproveitamento do rebatedor, no entanto, e exigiria mais uso do flash. Uma vaga no estacionamento, à sombra, tripé montado e câmera a postos.
Aqui não teve jeito, tive que me ajoelhar, esticar, ficar em posições estranhas para conseguir enquadrar e focar do jeito que eu queria. A cabeça (Manfrotto 486) que uso com meu tripé não me ajudou. Ela é do tipo ballhead e não aguenta o peso da câmera, o que requer ajustes constantes. O tripé, este sim, ajudou bastante. O modelo que utilizo, o 190X ProB da Manfrotto, tem um botão na base de sua haste central, que permite utilizá-lo quase rente ao solo, bem como adotar novos ângulos para a câmera, como lateralmente ao tripé, na vertical ou na horizontal, como na foto:

Para as fotos do escapamento, item de destaque deste modelo, utilizei esse recurso do tripé e lá fomos nós, rentes ao chão. Aqui faltou um equipamento que possuo: um angle finder, que nada mais é que um "periscópio" que permite usar o visor quando a câmera está em posições muito baixas, por exemplo.
Posicionei o rebatedor para tentar tirar algumas sombras, mas como eu mesmo estava posicionado à sombra, consegui poucos resultados. O lado dourado surtiu mais efeito, acentuando, por exemplo o brilho do sol nas curvas de escapamento. 
Todas as fotos foram tiradas em formato RAW e antes da conversão ajustei um pouco as imagens em brilho, contraste, etc.
Da mesma posição rente ao chão tirei fotos da bomba de freio traseiro. Esta peça não tem muito charme a não ser a marca, da italiana Brembo, especialista em freios. Mas o ângulo adotado, junto com a proximidade adicionaram o destaque que eu queria. O resultado, entretanto, ficou aquém do que buscava. Faltou paciência, posso dizer.
Tenho sempre a tendência de usar aberturas gigantescas quando uso essa lente. Daí acaba ficando difícil fazer foco.
A intenção, às vezes, é deixar parte da foto fora de foco e uma pequena porção nítida. Foi o que consegui nesta foto, uma das minhas favoritas desse ensaio:
Essa lente possui função macro real (1:1). Permite fazer foco a distâncias muito, muito pequenas. Aqui, a trave móvel do tripé me ajudou novamente:
Com a câmera nessa posição obtive esta foto:
Para quem estiver se perguntando, esse é um dos parafusos da mesa superior do guidão.
Mais ou menos da mesma posição, tirei estas:



A funcionalidade de macro permite tirar o máximo de detalhes como este, difícil de ser capturado, por se tratar de desenho jateado em vidro:
Cabe dizer que os resultados ficaram aquém do que eu pretendia, mas estou fora de forma e sem paciência nenhuma para brincar no quarto-escuro virtual. 
E se você, perspicaz leitor, observador minucioso, estiver se perguntando "onde estão sua jaqueta, capacete, a bolsa da câmera e do tripé?"
Uai, aqui:
Inté a próxima.